PROJETO DO TRANSE   

As Artes Populares no Centro Oeste Brasileiro: Memória e Cultura Visual

 Introdução

O objetivo principal deste projeto é dar continuidade à proposta anterior que visava compreender as nuances da articulação entre performance e identidade no contexto da contemporaneidade brasileira, considerando o desenvolvimento recente do conhecimento sobre as artes populares no Brasil. Especificamente, visava-se colocar grupos, manifestações e artistas populares do Planalto Central no foco das discussões ora em curso no país. Concluída esta fase com a publicação de duas coletâneas de artigos pelo Transe, a continuidade será realizada pela conclusão de 2 subprojetos incluídos anteriormente e pela inclusão de mais 10 novos subprojetos que, do mesmo modo, enfocam manifestações culturais localizadas no Centro Oeste Brasileiro.

Considerando-se que o Brasil tem uma das mais antigas e bem sucedidas políticas de proteção do patrimônio cultural, iniciada em 1937, com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, ampliada de forma significativa pelo artigo 216 da Constituição Federal de 1988 e pelo Decreto 3551, de agosto de 2000, que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, vale a pena perscrutar sobre o estado das artes populares numa perspectiva regional, tendo em vista uma avaliação de como os mentores dos esforços pela preservação dessas performances culturais tem registrado a memória cultural da região articulada ao profuso e recente desenvolvimento das possibilidades e requisitos da cultura visual produzida eletronicamente.

Ressalte-se que os tempos contemporâneos, isto é, as últimas décadas do século passado e este início do século XXI, são profundamente marcados, entre outros, por alguns processos tais como a globalização do capitalismo financeiro, a nova revolução científico-tecnológica, a transição do modo de produção de bens para o modo de produção de conhecimento, o surgimento de novos atores sociais na cena política, a instantaneidade das comunicações, a instituição do efêmero e da virtualidade que afetam não só aos bens materiais, mas também e principalmente aos comportamentos, normas, valores e relações sociais. Esta proposta perscruta o inventário e compreensão do que essa revolução tecnológica está imprimindo às questões da memória e cultura visuais nas artes populares brasileiras.

Os estudos englobados pelo projeto serão realizados prioritariamente através da participação dos pesquisadores nos encontros e apresentações dos grupos e nas experiências selecionadas, quando serão elaborados os registros em imagens e as entrevistas com as lideranças (informantes privilegiados) sobre o objeto da pesquisa, buscando o entendimento que lograram elaborar sobre temas como tradição, regionalismo, autoestima e rememoração. Espera-se produzir livro apresentando os resultados da pesquisa, incluindo midias imagéticos, próprios da cultura visual contemporânea.

Circunscreveu-se a região do Centro Oeste Brasileiro como área a ser enfocado, em virtude de suas manifestações performáticas populares serem pouco conhecidas e divulgadas e pelo interesse em expandir geograficamente o espectro dos estudos anteriores que privilegiavam as performances culturais do Planalto Central e suas formas de preservação. Espera-se que o conhecimento gerado sobre essas manifestações ou performances culturais, ilumine novamente as possibilidades da teoria da performance para explicar a persistência e preservação dessas criações humanas na memória coletiva regional. Espera-se também que as informações coligidas apóiem a formulação de políticas de preservação e de salvaguarda, visando incrementar a inclusão social dos grupos e experiências enfocados, tais como a formação de associações e eventos mantenedores dessas tradições.

 Objetivos Específicos

De imediato, objetiva-se a publicação de uma terceira coletânea de artigos, a ser constituída por novos artigos concluídos e editados, de maior abrangência regional e contribuir, com isso, para consolidação de uma rede de pesquisadores especializados em performances culturais do Centro Oeste Brasileiro já existente. Ressalte-se que nas duas Coletâneas publicadas anteriormente verificou-se a inclusão de 11 artigos escritos por 13 pesquisadores associados ao Transe, na primeira e de 18 artigos por 21 pesquisadores, na segunda, respectivamente, dessa ou sobre essa Região.

Pretende-se realizar o seu lançamento durante Encontro Acadêmico sobre o objeto de estudo a ser realizado em 2015, quando também será programada uma exposição digital das imagens e dos audiovisuais produzidos pelos subprojetos que compõem esta Proposta sob a forma de CD Roms, DVDs e outras mídia, para a divulgação dos resultados da pesquisa. Ao mesmo tempo, esse Encontro visará solidificar o diálogo entre os pesquisadores e os representantes das manifestações estudadas, visando a disseminação do entendimento dos mesmos no que concerne a relação entre as suas memórias culturais e os produtos midiáticos de cultura visual que ensejam.

 Justificativa

O Laboratório Transdisciplinar de Estudos sobre a Performance - TRANSE existe desde 1995 na Universidade de Brasília, com o objetivo de desenvolver pesquisas no campo da performance e suas interfaces com diferentes campos do conhecimento, notadamente as ciências sociais e as artes. Durante este tempo, o Laboratório realizou quatro eventos acadêmicos e dois espetáculos performáticos, os quais resultaram em artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, além das publicações Patrimônio Imaterial, Performance Cultural e (Re) tradicionalização (2008, segunda edição); As Artes Populares no Planalto Central: Performance e Identidade (2010); Brasília 50 Anos: Arte e Cultura (2011 e As Artes Populares no Brasil Central: Performance e Patrimônio (2012) ), além de publicações outras anteriores.

Os três últimos foram resultados de Projetos de pesquisa, apoiados pelo CNPq. A linha de orientação deste novo projeto está, em princípio, no contexto da contemporaneidade, sendo a questão da identidade do indivíduo, entendida como a sua inserção no social, bem como a própria identidade dos diversos grupos sociais, é colocada em questão e reivindicada como direito. Ora, o patrimônio cultural é por excelência um dos mecanismos de criação de identidade. A preservação do patrimônio de uma sociedade é o reconhecimento da memória e da tradição como um recurso simbólico e econômico de inclusão social e política. As referências culturais produzidas pelos indivíduos e grupos sociais resultam, na verdade, da atribuição de sentido a determinados objetos e práticas que eles reconhecem como tendo um determinado valor simbólico.

Primeiro de tudo, considera-se que a intenção de fazer ou refazer (interpretar o presente) é uma das intenções fundamentais do conceito de performance e que, portanto, há que se atentar para os riscos da exacerbação de uma busca obsessiva por autenticidades e espontaneidades expressivas, muitas das vezes existentes apenas nas mentes dos pesquisadores e promotores culturais envolvidos.

Segundo considera-se, como afirmam alguns estudiosos que as performances culturais funcionam como atos vitais de transferência, transmitindo saber social, memória e sentido de identidade, através de ações reiteradas. Outros, por outro lado, distinguem sete funções para as performances: entreter; fazer alguma coisa que é bela; marcar ou mudar a identidade; fazer ou estimular uma comunidade; curar; ensinar, persuadir ou convencer e, finalmente, lidar com o sagrado e com o demônio. (Schechner, 2005)

Admite-se que performance inclui, mas não pode reduzir-se, aos termos que normalmente são utilizados como seus sinônimos: teatralidade, espetáculo, ação e representação. Diana Taylor (2003) é clarividente sobre essa discussão, ao explicitar, enfim, que como termo que conota simultaneamente um processo, uma prática, uma episteme, um modo de transmissão, uma realização e uma maneira de intervir no mundo, performance excede amplamente as possibilidades daqueles supostos sinônimos.

Considerando a respeitabilidade da produção do TRANSE, e com o objetivo de dar continuidade às suas atividades, tornou-se uma decorrência natural a realização de uma pesquisa sobre as relações entre memória e cultura visual numa perspectiva regional, objeto do presente projeto, tendo em vista a sua candência e atualidade.

Dessa forma, visa-se promover a aproximação da universidade com a sociedade, a partir da troca de experiências com produtores de cultura popular e a divulgação de eventos culturais transcendentes para a compreensão da identidade nacional brasileira, no geral, e da identidade regional do Centro Oeste, em particular. Por outro lado, tenta-se a promoção do reconhecimento social de grupos e indivíduos produtores de arte populares pouco conhecidos na sociedade inclusiva bem como a valorização de ofícios ainda subalternos no mercado consumidor das artes em geral.

                     Além disso, a contemporaneidade brasileira tem sido marcada por um crescente interesse no estudo e divulgação das formas como as manifestações culturais de cunho popular articulam suas práticas e representações. Esse interesse denota preocupações de ordem conceitual e teórica, mas, também, o entendimento da relação entre imagens e as formações identitárias dos grupos envolvidos.

                    Em decorrência disso, há a necessidade de produção e armazenagem dos materiais videográficos e fotográficos sobre os mesmos, a fim de serem disponibilizados e propagados, permitindo uma maior disseminação do conhecimento produzido e a substanciação das reivindicações populares. Esses mesmos materiais permitiriam, igualmente, a comunicação e interlocução dos grupos de pesquisadores que os produzem entre si e com os grupos envolvidos, facilitando a socialização dos conhecimentos e o estímulo para a realização de pesquisas e encontros para discussões sobre várias questões pertinentes ao campo da cultura popular. Tal enfoque permitirá estender a compreensão entre temas diversos, entre os quais se destacam o da identidade social, o da memória coletiva, dos seus territórios e fronteiras; e da constituição de redes de sociabilidades, sublinhando o lugar da imagem na construção da memória e o da produção audiovisual sobre o espaço cultural circunscrito pelos eventos programados.

                  Procura-se, assim, a construção de uma identidade visual, sua afirmação e representações, afirmando-a na esfera publica contemporânea, através da recuperação da sua memória e da sua propagação estética e das novas mídias da sociedade em rede, incidindo indubitavelmente sobre o processo de construção estética da identidade cultural.

                 Essa sociologia audiovisual, por assim dizer, permitirá através da produção videográfica ensejada, a constituição de um corpo de informações empíricas e estéticas, proporcionando o compartilhamento da memória coletiva dos grupos enfocados e do reconhecimento de suas ações afirmativas e diferenciadoras, numa perspectiva multicultural de inclusão social. Percebe-se, assim, a realização da pesquisa como oportunidade única de criação de um inventário de memórias coletivas, reconhecimento identitário e de pertencimento social das performatividades[i] enfocadas.

Metodologia

Os critérios para seleção das manifestações enfocadas foram: o interesse particular de cada pesquisador, a representatividade da manifestação no universo das artes performáticas do Centro Oeste e a possibilidade de acesso a eles decorrentes de contatos prévios. Foram privilegiadas as seguintes localidades: Brasília (3 subprojetos); território Kalunga (Teresina de Goiás, Cavalcanti e Monte Alegre em Goiás – 2 subprojetos); Inhumas - GO; Patos de Minas – MG, Santa Rosa – TO,  Ponta Porã -- ,MTS, Cuiabá – MT, além de Luziânia e Goiás Velho, também no Estado de Goiás que já estavam sendo estudadas no projeto anterior. Nessas localidades, foi identificada uma variedade de manifestações performáticas, pouco estudadas ou parcamente promovidas regionalmente ou nacionalmente: folias de reis, festas populares, danças tradicionais, tradições reinventadas ou re-estabelecidas. Essas localidades serão estudadas por 13 pesquisadores do Transe: 5 doutores; l doutorando, 1 mestre; 1 mestrando e 5 alunos em iniciação científica, representando 4 universidades diferenciadas da região.

As particularidades metodológicas estão expostas em cada um dos subprojetos, marcadas pelo método etnográfico, com realização de trabalhos de campo, através da observação direta, com entrevistas, registros documentais e imagéticos, tendo em vista o objetivo de inserção do Transe no mundo da cultura visual.

              No momento, enquanto o grupo dá continuidade à execução dos subprojetos em execução, realiza-se o detalhamento das ações práticas no sentido de retornar o conhecimento produzido às populações e grupos estudados num esforço de disseminação e inclusão social, relacionados à extensão universitária.

CRONOGRAMA GERAL DO PROJETO

O projeto se encontra em fase de expansão com a inclusão de 8 novos subprojetos que deverão ser desenvolvidos de março de 2013 a Março de 2016, abrangendo performances culturais do Centro-Oeste (Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e do Norte (Estado do Tocantins). Os cronogramas de cada subprojeto estão explicitados nos textos dos mesmos

OBRAS CITADAS:

Schechner, Richard. “O que é performance?” in Estudos da Performance, O Percevejo, Revista de Teatro, Crítica e Estética, Departamento de Teoria do Teatro, UNIRIO. Ano II, no. 12, 2003.

Taylor, Diana. “Hacia uma Definicion de Performance” in O Percevejo, op. cit. , 2003

Subprojeto I

Título do subprojeto: Cantorio da Cia de Santos Reis de Inhumas / GO

Prof. Dr.: Sebastião Rios 

Departamento de Sociologia/ Universidade Federal de Goiás

 Subprojeto II

O Clube do Laço, em Ponta Porã/MS: práticas quotidianas e performances culturais

Profa. Dra. Alice Fátima Martins (FAV/UFG)

 Suprojeto III

 Festa do Fogaréu: performance e catolicismo carnavalizado na Semana Santa da Cidade de Goiás – GO

Professor Dr.: Augusto Rodrigues da Silva Junior (TEL/UnB).

 Subprojeto IV

 História, performance e saberes: os Congos de Santa Rosa, Tocantins.

Profa. Dra. Noeci Carvalho Messias- Fundação Universidade de Tocantins (UNITINS)